30 janeiro 2010

Em conto, uma quase história...

O relógio dava pouco mais de nove em ponto e Alice caminhava como quem corria, em direção a sua casa. A casa dela não era tão longe de onde estava, por isso sempre que tinha esse compromisso, ia e voltava caminhando. Caminhando quase como quem corria. Estivesse atrasada ou não... E quando atrasada, era aquela ansiedade. Dizia, às vezes, para as amigas "Se continuar me atrasando dessa maneira, morrerei de enfarte" e sorria. Sorria como quem tinha uma conta a pagar, como se essa fosse A Sua Utilidade... Fazer os outros sorrir, nem que fosse com a própria risada. E sorria. Mas não é bem do sorriso de Alice que quero falar pra você. Preciso te contar sobre COMO ela é ou COMO ela era. Não sei! São das lágrimas que falo. Nesse dia, por exemplo... Ela não chegou em casa tão rápido como de costume. Em sua trajetória, parou quase em sua rua e sentou-se para chorar. Não queria chegar em casa, pois não queria que ninguém a visse daquele jeito. Não teria paciência para dar explicações que nem ao menos ela tinha. E apenas chorou... Por 10 minutos? Por 20, 30... Até que viu que se ficasse ali poderia até amanhecer, ser assaltada na madrugada, ou sei lá o que quer que fosse possível de acontecer... Além do todo que a deixara daquele jeito. O que poderia ser pior que aquilo? Só a própria vida, no momento! É o que ela responderia, se eu perguntasse.
Voltou um pouco a sua trajetória e pegou um ônibus qualquer para lugar nenhum. Afinal, ela sabia que queria e estaria em casa antes da meia noite. Ela só queria estar em algum lugar onde o vento batesse em seu rosto. Onde ela visse todas as deformidades do mundo - e as suas próprias - mas ainda assim o vento batesse em seu rosto. E batia! Pensou então que ele batia até mais leve do que as notícias que acabara de receber. Não por quem deveria, mas soube da pior forma possível. O sentimento de humilhação não era tímido naquela noite... ela chorava para quem quer que fosse, pois não tinha controle algum. Nem sobre a notícia, nem sobre o que sentia. Bom, sobre o que sentia era o que ela pensava.




Débora Gil.

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